Fingimento

Múltipla, complexa, fujo do bulício.

Heroína, acobardo-me diante de mim.

Infame, sento-me à beira do precipício,

Parindo frases sem verve, enfim.

Engano até os meus segredos.

Autora de mim, armadilho afetos.

Desenho a lápis, finjo avessos.

Arame farpado, rasgo acesso ao coração.

Existo no que finjo e no que não.

Exangue, com pedaços me escrevo.

Em danúbios negros, me contemplo.

Não combato o meu contrário,

Sou de mim o adversário.

A vida esbate-se no fingimento de mentir.

E se, de tanto fingir, deixei mesmo de sentir?

Poema publicado em Newsletter do Clube de Leitura Transatlâncicos

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